4 de abril de 2010

O MENINO DIPLOMATA

Andando pela rua fui eu, cansado de tanto ser sentei na praça perto da igreja. O sol brilhava, e as sombras das árvores refrescavam as costas que já queimavam de tanto calor. Sem nada a fazer inspirava e expirava com os olhos fechados, tranqüilo e relaxado e do nada um barulho danado veio a soar: braumn!
Logo, abri os olhos meio assustado e pus-me a observar o acontecido ainda assentado. Um homem havia batido seu carro na carrocinha do amigo pipoqueiro. Acidente nada grave, nem amassou as duas maquinas, mas derrubou pipoca no chão. Como todo acidente, os acidentados levaram a mão na cabeça e começaram uma discussão que quase sempre não leva a nada. Ainda sentado, observei um menino que estava sentado no passeio logo em frente do acidente, mas do lado ao contrario da carroça de pipoca, do outro lado da rua. Pensei logo, como estava com os olhos fechados não posso ser testemunha e resolver o impasse de quem estava certo ou errado. Mas aquele menino com sua pipoca na mão era uma testemunha valida naquela ocasião.
O homem do carro falava: “O pipoqueiro desastrado, onde coloca a carroça de pipoca? No meio da passagem dos carros, vai pagar o arranhão do meu carro”. O pipoqueiro ainda calado olhava o prejuízo das pipocas no chão, mas não chorava que nem o motorista do carro. E, ainda calado pôs-se a varrer as pipocas perdidas enquanto o homem do carro ainda chiava do seu lado.
O menino do outro lado olhava atentamente a discussão, nem piscava parecia estar assistindo um filme de bang-bang na televisão. A cada minuto que o pipoqueiro ficava calado, o motorista ficava mais zangado, nervoso pedia reação pra solucionar o fato acidental. Até que o pipoqueiro disse com uma voz angustiada: “Asno! Você é um asno, não um motorista. Vai pagar toda a minha pipoca perdida, além de uma indenização por quase ter me atropelado, se não chamo a polícia”. Fiquei assustado com a voz ofensiva do pipoqueiro, e ainda achava aquele homem sereno, engano meu.
O bate boca continuou, e os xingamentos continuaram, e o menino ainda olhava tudo com interesse danado, mas sua pipoca acabava à medida que ia comendo.
Os dois envolvidos no acidente de tanto discutirem começaram as ameaças, dizia o motorista: “Pipoqueiro infeliz, vou quebrar seu nariz com um soco bem dado”, e revidava o homem das pipocas, “Pode vir asno, além de pagar meu prejuízo vou chutar seu bunda de cavalo”. Cerraram os punhos e ensaiaram um combate, não havia mais ninguém na rua, só eu, os dois brigadores e o menino que já estava as gargalhadas, e ainda sem ser percebido pelos envolvidos no fato ocorrido. Um anda pra esquerda o outro pra direita, olhavam olho no olho, estava decidido, haveria a briga.

Não acreditava na confusão que assistia, mas o bote foi armado e os dois estavam pra briga. Logo quando o primeiro soco ia ser dado o menino que ainda estava sentadinho no meio fio da rua, ainda sem ser percebido, deu seu grito: “Poodeee Paarar!”. Os dois homens assustados com o grito pararam a briga e olharam urgente para o menino sentado, e sem entender o pipoqueiro perguntou: “Quem é você menino, pra interromper uma briga, não esta vendo que isso é assunto de gente grande?”. O menino sem se sentir intimidado foi logo falando: “Desculpa senhores, não queria interromper momento tão importante para o fato acidental, mas é que tem algo errado na briga dos dois”. Realmente não entendi a atitude do menino, nem os dois brigões. Olharam um para o outro e sem entender nada o questionaram: “Menino atrevido, o que acha estar errado na nossa briga? É tão pequeno que não sabe nem a hora que esta com fome.” O menino começou a rir da situação e deixou os dois senhores ainda mais zangados, mas agora não por causa do acidente, mas pela intromissão do menino. Então o pequeno disse: “Senhor pipoqueiro, pra falar a verdade eu estou com fome, e queria mais pipoca, porque a minha acabou. E onde já se viu uma cena destas, de cinema, sem pipoca?” Sem saber o que fazer o motorista disse ao pipoqueiro: “Pegue logo a pipoca pra esse menino pra gente resolver nosso problema”. O menino meio constrangido passou a moeda ao pipoqueiro pedindo desculpa pela intromissão. Mais constrangido o pipoqueiro foi na carroça encheu um saco e deu ao menino e voltou à posição, e disse: “De onde paramos?”, o motorista ainda nervoso disse: “Estava prestes a te dar um soco pipoqueiro folgado”. O ring estava armado e os dois lutadores posicionados, quando o clima de luta voltava e a briga estava prestes a explodir em socos e pontapés, o menino novamente gritou: “Paaraa tuudooo! A pipoca ta sem sal, isso mais parece comida de hospital, assim não dá pra assistir.” O motorista ficou mais nervoso ainda, gritou com o menino: “O menino não ta vendo que ta atrapalhando? Isso não é cinema é real, depois te pago um monte de pipoca, mas agora deixa dar umas porradas e resolver esta confusão”. O pipoqueiro ficou olhando desfazendo do motorista e ainda em posição de briga. O menino calmamente disse: “Me dê às pipocas prometidas agora, que eu deixo o pipoqueiro em paz pra vocês resolverem suas confusões”. O motorista nervoso tirou a carteira, pegou o dinheiro e deu ao menino dizendo: “O pirralho some daqui e vá comer pipocas em outro lugar”. O menino rapidamente disse: “Só mais um minuto senhor motorista e senhor pipoqueiro”, o menino levantou foi perto da carroça enquanto os dois homens olhavam, com sua camisa de algodão limpou o arranhão do carro, chegou perto do pipoqueiro, disse: “Aqui está o dinheiro das pipocas que caíram no chão, pronto resolvi a confusão, boa tarde pros senhores e desculpa novamente a intromissão”.
O menino saiu rindo e cantarolando, andando pela rua. Os dois brigões olharam um para o outro e ficaram sem reação, pediram desculpas um para o outro, e sem graça decidiram acabar com a confusão. O motorista entrou no carro e foi embora, e o pipoqueiro foi vender suas pipocas. E, eu, rindo por toda aquela cena, pensei alto: “Ô menino diplomata!”

O VIZINHO


- Toc! Toc! Por favor, abre, é urgente!
- Só um momento.
- Por favor, é urgente. Toc! Toc!
- Pronto, porque a pressa? O que aconteceu?
- Eu creio que estou louco, isso mesmo estou louco, e não sei o que fazer. Você tem que me ajudar.
- Entre, sente-se no sofá que vou pegar água para você...
- Não precisa, não estou com sede, eu estou ficando louco...
- Certo! Certo, mas se acalma, e conte. Por que você acha que está louco?
- Aconteceu algo muito estranho, acordei todo molhado e não me lembro o que aconteceu.
- Ah! Se o problema é este já sei o que lhe aconteceu, seu mijão.
- O que está querendo dizer com “seu mijão”, não é possível que pensas que nesta idade seria capaz de...
- ...mijar na cama, lógico! Esta é a resposta pra sua loucura.
- Desta maneira tu me ofendes, não sou mijão, e já tenho idade o suficiente pra saber das minhas vontades e necessidades.
- Tem certeza? Não sentiu um cheiro estranho?
- Chega desta história, não sou mijão. Penso que alguém me molhou, era água que jogaram em mim.
- Mas quem seria capaz de invadir o seu quarto só pra te molhar? Realmente você está louco, mas vamos pensar. O que mais pode ter acontecido?
- Não sei oras, se soubesse não tinha vindo te perturbar. É estou louco, vou me internar, ainda sonhei que estava mergulhando e acordei molhado, realmente a loucura tomou conta de mim.
- Pare com isso, já sei! Você é sonâmbulo, aposto que foi caminhar pela rua, enquanto dormia nesta madrugada e pegou a chuva, e foi dormir molhado.
- Sonâmbulo é loucura? Claro que não, seu burro. Não sou sonâmbulo, sou um louco.
- Como que você sabe que não é sonâmbulo?
- Muito simples espertão, ontem não choveu, lá fora está tudo seco, fora o seu jardim.
- Hum! É mesmo, fui molhar as plantas do jardim, pois estavam secas demais, estou percebendo que seu problema é loucura mesmo...
- Não! Não é possível, vou ter que me internar, ai meu Deus!
- Talvez sua loucura seja branda, não seja grave... Quem sabe vai poder conviver normalmente com a nossa vizinhança, só vai ter que usar aquelas camisas de louco.
- Não é possível, minha irmã quando ficar sabendo da minha loucura vai ficar arrasada.
- Em falar em sua irmã, hoje de manha ela estava com um vestidinho que sai fora de mim.
- Seu safado, sorte sua que ela não gosta de você...
- Bem que você podia me ajudar com ela.
- Calma ai! Você viu minha irmã na hora que molhava seu jardim?
- Sim, por quê?
- Ah! Eu te mato, pra você não ficar mais molhando as pessoas, seu pilantra, ainda queria me internar...
- Uai! Do que esta falando? Eu não molhei ninguém, você está louco mesmo.
- Eu dormi com a janela aberta, e você me molhou quando olhava minha irmã de vestido, eu realmente te mato.
- Que bom vizinho, você não está mais louco, te curei! Me dê um abraço!