28 de dezembro de 2012

DE CALÇAS NAS MÃOS!

Uma senhora de oitenta e três anos, com roupas clássicas, sapato de salto, cabelo preso e bijuterias finas, um bolsa fina a tira colo, mas tudo isso em uma estranha desarmonia. A velha imponente chega discretamente a uma praça modesta, de um bairro nobre em uma grande cidade. Ao atravessar, de um lado ao outro, passa perto de crianças e suas respectivas babás, por brinquedos e seus respectivos brincadores e por rosas e seus respectivos jardins. Ela sorria a tudo que lhe correspondia o olhar, mas seu olhar não brilhava, tinha nele um ar de ressaca em estranho reflexo das cores daquele dia. Era uma manha nublada, com cheiro de chuva do dia anterior. Dona Antonina senta sobre um banco afastado de todos e fixa o olhar aparentemente pro nada, pela tangente daquele espaço. As babás ao ver passar à senhora idosa, com aspecto não condizente com a paisagem, dia e hora, muito estranho acham, e começam a cochichar. O mistério ronda a existência daquela senhora, diziam as cochichadeiras: “O que todas as semanas faz tal velha ao observar tal casarão abandonado, na mesma hora, no mesmo lugar?”. Outras diziam: “Dizem que é louca”, “Está enganada, dizem que já foi presa e matou seu marido nesta casa”, “Na verdade, ela era rica e enlouqueceu por causa de um grande amor, ela ficou assim por isso!”, “Dizem que ela tem uma arma dentro da bolsa”. Os murmúrios do mistério se aqueciam na presença senhora misteriosa.

Mal sabiam as cochichadeiras do tal motivo, que fazia tal mulher de aspecto solitário, triste, como o próprio olhar ressaqueado. Mas nenhuma destas características lhe tirava a simpatia e o sorriso como resposta. Dona Antonina era com propriedade triste, algo que não a diminuía, só acrescentava na riqueza da sua figura. Nenhum dos frequentadores daquela praça se atrevia a perguntar nada, só a cumprimentavam, e ela de maneira discreta e sem dar liberdades retribuía. Já havia alguns anos que lá, no mesmo ponto da praça, em frente ao casarão antigo ela ficava. O aspecto contemplativo refletia em sua face, às vezes em tons de tristeza, as vezes em tom de alegria, entretanto sempre havia o tom de mistério. As crianças por algumas vezes sentiam medo e receio daquela estranha que até assemelhava-se por avó. Existiam casos de crianças que foram perguntar à ela, ou em sua direção, mas nada saiu da sua boca, somente o sorriso de volta e muito as vezes um “nada, nada” ou “que criança curiosa” e saía do seu observatório. Certas mães pensavam que a velha já não tinha memória, mas por que então que ela demonstrava sentimentos ao contemplar aquela casa? Essa questão que só instigava, por vezes não havia resposta.

A casa antiga que chamavam de casarão, era branca com detalhes em rosa. Percebia-se certo descuido em seus jardins, pintura e telhado. Não estava destruída, mas aparentava o abandono. Pelo que todos comentavam não havia moradores nem visitantes. Os muros eram baixos, e a casa ficava alta dentro do terreno, dando vista a sua fachada da praça. Duas palmeiras enormes davam o contorno a sua fachada de estilo franco-europeu.  Ao contemplar, às vezes a velha senhora sorria às vezes ela chorava. Mas na maior parte simplesmente observava, por horas, horas e horas.

Eis que um dia o incomum aconteceu. Tudo inicialmente foi igual, Dona Antonina atravessava a praça com sorriso receptivo e correspondido a tudo que era dado. De maneira calma e lenta se posicionava no banco, o qual já quase havia seu nome de tão seu. Os cochichos já comuns iniciavam, tornando o barulho natural daquela paisagem. Tudo em sua harmonia habitual. Mas do nada a senhora velha deu um pulo de alegria e começou a cantarolar, tirou uma máquina de fotografar de dentro da bolsa e bateu uma foto do casarão. Ninguém entendeu tal movimentação tão espontânea e sem nenhuma explicação, mas como sempre todos observavam cuidadosamente. Logo após Antonina saiu às pressas, de maneira incomum, sem dar tempo de qualquer questionamento, e logo voltou. Voltou com a polícia, que já chegou arrombando a porta do casarão e de lá saiu um senhor velho, todo arrumado, terno alinhado, sapato ilustrado, barba feita, estranhamente ao mesmo nível que Dona Antonina.

A velha agora sorridente, com olhos brilhantes logo correu e mostrou um papel para o policial e pro velho, e o senhor não demorou a abraçar a Dona Antonina. O Policial ficou boquiaberto, estarrecido com a história, afastou de lado e sentou no meio fio da praça pra tentar entender o acontecido. Os velhos entraram pra dentro da casa, os policiais ficaram do lado de fora. Até que uma das babás chegou para o policial e questionou o improbito acontecido daquela hora.

O policial muito educado, e sem muita certeza do que falava começou a dissertar dizendo: “Minha senhora, não sei bem o acontecido destes loucos que me ocuparam a hora. O que sucede é que os dois velhos são casados Baronesa Antonina e Barão Antonião De La Fuego. A sete anos atrás, após a morte do último filho do casal, os dois entraram em uma guerra matrimonial, de quase atirar fogo um no outro. Ele, a enganou e fez assinar um contrato que poderia entrar na casa novamente, se o casarão algum dia torna-se desocupado. Só que para isso ele deveria permanecer dentro da casa a todo instante, e nunca sair la de dentro”. Logo as babás e mães já circulavam o policial para ouvir a fantasiosa e verdadeira história. Continuou o policial: “após este contrato dona Antonina ou Baronesa Antonina foi morar com uma de suas noras, e todos os dias vinha à frente da casa ver se pegava o doido do seu marido desprevenido com ‘as calças na mão’, ou melhor, dizendo, passeando pelo lado de fora da casa. Acabou que o dia chegou, e literalmente ela o pegou, não passeando, mas com as calças na mão, bem atrás das palmeiras do gramado de frente do casarão”. Diziam as mulheres em volta do policial estarrecidas com o caso: “que loucos”, “mas o que ele fazia com as calças na mão”, “e eu achando que ela era assassina”. Interrompendo elas, o policial concluiu: “o fato é que o homem teve um problema intestinal, o banheiro era no segundo andar, não daria tempo, sem pensar abriu a porta pra varanda, observou o banco da dona antonina vazio na praça, tirou as calças atrás da palmeira e começou a defecar. Coitado, pego de calças na mão, descumpriu o contrato, agora voltou com a esposa pra casa. Mas certo é que os dois pediram desculpas um pro outro e refizeram as pazes, gente fina briga por cada coisa, que nem compensa perder tempo com bobagem”. Sem mais o que falar as mulheres, mães e babás, puseram a dar risadas, as crianças com jeito que não entenderam nada dos problemas adultos até idosos por sinal. O policial desapontado não pegou ladrão, não desvendou nenhum assassinado, só resolveu a briga de um casal em questão, e por um dia o comum e habitual harmônico daquela praça, viveu um conto de ficção!



27 de dezembro de 2012

Mazelas


Empobrecíeis, és o que espera de vós.
Antagônico, apeguei aquilo que não o valia.
 Solto não se sabe como o agir.
Talvez só seja influencia,
mas nem sempre o será, hábito.
Quase sempre não é enfim húmus
humanos, homens for o que tudo é.
Sendo que tudo é quase nada perto dos sonhos
sonhador! Instante de vícios...
Ser estranho, alienígena
habita em vós, este não esperávamos.
Mas enfim, toma o que tu és e seja!

23 de dezembro de 2012

Ei vida!




Ei vida!
Tu que és chamada de bonita...
Tu que és dada ao ar da graça,
ao ar da raridade, medida...
Tu que foi dada como um sopro,
um instante, um momento...
Tu que és tão abundante como água,
que escorre, se esgota a cada dia...