16 de fevereiro de 2010

REVOLUÇÃO DO PENSAMENTO PACATO...


Senhor José Tuteles Ferreira Platôs tinha 85 anos, já velho não tinha família, morava sozinho. De estatura mediana e cabeça branca Seu Zé, como era conhecido, todos os dias caminhava até um banquinho no alto do morro, em frente à igreja numa praça da cidadezinha do interior em que ele morava. Na mesma hora, hora de Ave Maria, ele começava e recomeçava sua procissão de todos os dias, pra não mancar usava uma bengala preta com listras marrons de couro, e sempre andava devagar. Cumprimentava a todos e todas que via onde passava, Seu Zé era muito querido, era padrinho de mais da metade dos meninos da cidade. De compadre e comadre ia dizendo “oi” e perguntando “como vai à filharada?”, sempre sorrindo ia subindo o morro da Santa Igreja em sua Via Sacra diária. Chegando lá reverenciava a cruz, observava a igreja e começava a exercitar seu exercício que não era físico e muito menos como o de escola ‘para-casa’, Seu Zé exercitava sua mente em seu raciocínio na dialética confrontada. Para ele pensar era existir, sem raciocínio a vida não era aproveitada. Em sua volta aglomeravam jovens e senhores adultos para confrontar em questionamentos e o seu conhecimento indagavam. Aquele senhor já velho se fazia presente naquela sociedade, forçava os pensamentos daquele povo feliz e pacato, discutiam felicidade, liberdade, amor, justiça e vários outros assuntos que talvez não tivesse uma só finalidade. As pessoas o respeitavam por que ele não dizia ou afirmava o que era e o que devia ser, valorizava seu semelhante e o pensamento alheio. Fomentava discussões de anos em dias inteiros, criava opinião, disseminava conhecimento, naquele banquinho de interior todos conheciam desde o Japão e o mundo inteiro até o Planeta Plutão e o Universo findo. Seu Zé não sabia “nada de nada” como ele próprio afirmava, e mesmo assim produzia conhecimento no “Porque?” que ele perguntava, nas histórias e textos de outras pessoas que ele contava as crianças, um passaporte de viagem pelas entrelinhas e letras. Quem não gostava daquele movimento revolucionário do conhecimento pacato era o Prefeito, Senhor Paulo Sofis Malhado, ele achava aquilo tudo besteira e perda de tempo e dizia “vocês produziriam muito mais, ganhariam muito mais se parassem de jogar papo fora nesta praça e começassem a trabalhar no serviço pesado”. Quando questionado da opinião contrária do Sr. Prefeito humildemente Seu Zé argumentava “o alimento que o corpo precisa são contáveis as medidas necessárias, entretanto, o alimento da alma pode ser imensurável e sem medida, o que acham desta tal afirmativa?”. A cidadezinha prosperava, já tinha cientistas de diversas áreas, doutores, escritores, artistas, poetas e poesias, obreiros, e donas de casa felizes e dedicadas a criação dos pequenos filhos da cidade pacata. O seu Prefeito já entendia que Seu Zé só ajudava a cidade com seu talento em filosofia, mesmo não sabendo como tudo aquilo funcionava, sentiu-se vencido pelos resultados e parou de dizer críticas infundadas, passou a declamar poesias e a praça da igreja freqüentar. E, Seu Zé apesar de sozinho não se sentia assim, porque sua casa não era vazia pela falta de uma família e nem paredes havia. Pois no seu coração cabia uma cidadezinha inteira como sua casa e todos que lá moravam eram toda a sua família.