3 de novembro de 2013

MOMENTO...



Não sei o que pensar, o que dizer, o que falar ou o que escrever. Sabe aqueles dias onde tudo é possível, e não importa o que você planeja, pois você está aberto a novas possibilidades? Vivemos um dejavu, a volta do mesmo só que diferente. Difícil de entender? Compreensível. Sabemos que o mundo é cíclico, e as mudanças acontecem por meio de pontos em repetição.  O variável tempo é impossível ser compreendido e dominado. O homem não consegue realizar esse domínio. 
Enfim, existem algumas coisas que explicam o relacionamento do homem com o tempo. Certa vez, ouvi dizer que o homem se relaciona com o tempo por meio de ações. As ações que preenchem a vida do individuo dentro do tempo relativo a sua existência. Estas ações definem no fim do estágio o sujeito. De grosso modo, se tiver caráter e é feliz, ou não. Como não consigo compreender o tempo perfeitamente, e tão pouco pretendo dominá-lo sou um ser que não consigo exprimir meu caráter ou ser feliz por completo. Humano, demasiadamente humano. Limitado, demasiadamente limitado.
A busca do ser indivíduo pela felicidade pretende imitar o significado primário da existência. O amar. Lutamos todos os dias para realizar ações com o limite máximo do amor. Esse sentimento que dá sentido ao um mundo racionalizado. Muito paradoxal, pois a razão não deveria deixar espaço para o sentimento. Enfim, somos arremetidos por loucuras insanas por causa disso tudo. Ontem foi um dia de loucuras. Podemos nos dar o prazer do desejar e do ter. Quando alimentamos somente a necessidade do desejo, depois que alcançamos o ter, perdemos o sentido da ação do desejo. Quando alimentamos o ter, não necessitamos mais da ação do desejo, pois o ter que é essencial. Complexo? Não, são Platão e Aristóteles conversando.
Hoje tenho nutrido um desejo do desejo. Ou seja, platonicamente estou apaixonado pela minha paixão por alguém. E que alguém. Tenho concebido a perfeição de uma mulher, linda. Morena, onde o dourado de sua pele reflete como ouro uma luz irradiante que ilumina o mundo. O seu corpo moldado como uma deusa grega, com pernas e bustos completamente esculpidos por Afrodite.O seu cabelo que balança com tamanha perfeição que até as ondas do mar se invejam da harmonia dela. Olhos que reafirmam a autonomia, e a fortaleza de uma mulher. Mas no fundo sabemos da alegria de ser menina, que encanta a todos onde passa. Ela tem o molejo e rebolado da alegria de um povo em festa. Ela tem a presença que preenche espaços, que atrai atenção, que seduz a todos. Uma feminista de dar vontade, seus ideais são vendidos por todo seu corpo. Ela convence com o todo. Talvez, só de olhos fechados seria possível resistir aceitar o que ela quiser.
Em algum momento, um amigo me perguntou: “qual é o nome da sua menina”. Eu contrariadamente disse: “não sei”. Mas na verdade, já conhecia o evocativo da perfeição. Aquela, que em desejo já me pertencia. Pois só com o olhar, já contemplava e consumia toda sua existência sublime. Mas tudo que define, trás a realidade. Ela não precisa de nome, ela não precisa de realidade. Em outro momento, uma menina disse “eu amo essa menina, sou louca para tê-la”. Mal sabia que ela não precisava dizer isso para mim. Eu certamente desejava a minha deusa mais que todos naquele lugar.
No vai e vem das pessoas, prendia minha atenção nela. Observava o seu caminhar. Suas caras e bocas que definiam muito mais que uma simples expressão, ela domina o todo. Tudo girava em torno dela. Ao dançar, ela era exagerada. Como sua beleza que exagera aos olhos dos seres comuns. Era mimada em si. Era abrangente e expansiva. Passou e voltou por mim. Onde não troquei a minha existência com ela. Nem se quer um olho no olho. E ela, se fez de impossível. Se fez platônica nos meus desejos.
Eu suspirava ao vê-la. Como pode um ser trocar todo o seu protagonismo existencial pela beleza sublime de uma mulher? Só sendo um louco insano. Eu fui. Troquei tudo por ela. Destruí-me pela admiração. Mas, o fato é que ela é perfeita porque ela não habita somente o real, mas transcende ao meu mundo irreal. Tenho graça disso tudo, realmente o ser platônico é burro. Mas ela não deixa de ser o ponto do meu desejo. O ponto da minha auto discórdia.
No fim da noite, ela indo embora, tive o prazer de ser abordado por ela em resposta a uma infame e boçal pergunta. E ela pela primeira vez, me diz “sim gato, podemos”. Um dos meus amigos disse “você ganhou a noite”. Não ganhei, nem perdi. Somente preenchi minhas ações com pouco da graça platônica. A distância do ato e fato coexiste com o desejar. O desejo é antagônico ao realizado. Ela se foi, e todos foram de certa forma com ela. Acabou. A festa acabou. Tudo acabou. Ela, naquela noite, também acabou.